A 11ª Mostra Mundo Árabe de Cinema promoveu no último sábado (20) o debate “Cinema, ruínas e territórios”, que tratou da dificuldade de palestinos deixarem as regiões controladas por Israel. Falaram sobre o tema o documentarista e diretor de comunicação do ICArabe. Arturo Hartman, e a jornalista palestino-brasileira e mestra em estudos árabes pela USP, Soraya Misleh. O debate ocorreu após a exibição dos curtas “Operação Condon Lead”, “Apartamento 10/14” e “Gaza 36mm”.
"Operação Condon Lead” e “Apartamento 10/14”, dirigidos pelos palestinos Tarzan e Arab Nasser, mostram o cotidiano de um casal em Gaza. O primeiro filme coloca a tentativa de o casal fazer amor ao som do barulho dos bombardeios que assustam o seu filho e, o segundo trata do aniversário de um dos protagonistas.
“Em Gaza, a população vive um bloqueio assassino”, denunciou Soraya. A jornalista comentou a dificuldade das pessoas da região deixarem os locais. “Dos 22 atletas da delegação de refugiados das Olimpíadas, três de Gaza não obtiveram a autorização para vir. As pessoas dependem da autorização do colonizador, que é Israel”, afirmou.
O debate estava inicialmente previsto para ocorrer com a presença do diretor palestino Khalil Al-Mozayen, responsável por “Gaza 36mm”. O cineasta não obteve autorização de Israel para sair de Gaza e se dirigir à Cisjordânia, onde pegaria o avião. Evento extra será promovido pela Mostra caso o diretor obtenha a autorização.
“Ou seja, ele tem de ter uma permissão de Israel. Foi importante manter a sessão, pois as políticas de controle de Israel querem exatamente isso”, afirmou Arturo Hartmann. “Evitar e trocar o debate, você está se entregando e permitindo que as políticas de Israel sejam bem sucedidas em relação não só à discussão política, mas aos outros entrelaçamentos que a Mostra busca, entre política, cultura e outras formas de arte que possam discutir questões sociais”, declarou.
Religião e geopolítica
Arturo e Soraya também falaram sobre a necessidade de separar a questão religiosa da geopolítica. “É uma construção feita para blindar um Estado de apartheid, de opressão”, declarou Soraya. “É um projeto imperialista e colonialista que está (presente) nas mídias. É lamentável Israel se colocar como porta-voz dos judeus e fazer a barbaridade que faz. Existe lá uma minoria não sionista”, disse ela, cujo pai foi expulso da Palestina na nakba (catástrofe) de 1948, quando foi criado o Estado de Israel.
“A gente sempre acaba lendo pela questão do Islã”, afirmou Hartmann, em relação ao filme “Gaza 36 mm”, que trata da perseguição em Gaza ao teatro e cinema por movimentos fundamentalistas. “O Hamas é um movimento político e é preciso encontrar as suas contradições como movimento político”, disse.
Para Soraya, é necessário discutir os filmes árabes no Brasil, como “Gaza 36 mm”, para não contribuir para a islamofobia e os estereótipos que já existem. “Exibir esse filme onde já há conhecimento sobre o que são os palestinos contribui para a crítica. Mas é importante discutir onde não se conhece. No Brasil, infelizmente, é importante discutir para não causar confusões”, declarou.
A Mostra Mundo Árabe de Cinema está em cartaz em São Paulo até domingo, 28 de agosto. Acompanhe a programação em http://www.mundoarabe2016.icarabe.org/inicio
Mostra Mundo Árabe de Cinema debate controle israelense sobre Gaza
Postado em 23/08/2016 Compartilhar no Facebook